Mario Quintana, nascido em 1906, distinguiu-se no panorama literário brasileiro por sua abordagem singular na poesia, na qual a simplicidade aparente de sua escrita esconde complexas camadas de interpretação e significado. Sua poética, marcada por uma aguda sensibilidade, explora com maestria as nuances dos sentimentos humanos e as trivialidades da existência cotidiana.
Na composição "Tudo tão Vago", Quintana conduz o leitor por uma trajetória que entrelaça reminiscências da infância a elementos do simbolismo natalino cristão. O poema desdobra-se em uma memória etérea, na qual a imagem de Maria, lavando as vestes do Menino Jesus às margens de um rio, emerge como uma alegoria da pureza e da renovação espiritual. Esta obra não somente invoca a tranquilidade sacral do Natal, mas também reverbera a busca inerente do ser humano por conforto espiritual e purificação. Esta análise da poesia de Quintana mostra que o verdadeiro sentido do Natal pode estar até mesmo nas lembranças mais vagas e confusas.
---
"Tudo tão Vago" de Mario Quintana
Nossa Senhora
Na beira do rio
Lavando os paninhos
do bento filhinho...
(de uma cantiga de ninar)
Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...
O Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...
E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...
Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...
Acompanhe nossos podcasts no Spotify.
Inscreva-se em nosso blog para receber outras publicações sobre arte e cultura.