Para fechar a série do Ao Redor sobre artistas independentes, abordaremos o universo dos escritores independentes.
Escritores que já publicaram seus próprios livros relatam dificuldades, mas também declaram satisfação em ver seus livros publicados e em ter autonomia sobre o processo, em poder escapar dos jogos ou exigências do mercado editorial.
Assim como vimos acontecer com a produção musical em relação às grandes gravadoras, muitas alternativas nasceram para facilitar a publicação de livros e tornar o escritor menos dependente das grandes editoras.
A publicação e venda de e-books tornou-se simples, acessível aos escritores e os livros digitais cada vez ganham mais consumidores. Mas também a publicação impressa, tradicional, foi facilitada pelas pequenas editoras e gráficas que trabalham sob demanda. Mas o que significa isso?
O serviço de impressão de livros sob demanda permite que o autor invista pouco ou quase nada para publicar seu livro antes de vendê-lo. Em algumas gráficas é possível publicar um único exemplar por vez. Isso garante que o escritor não perca dinheiro imprimindo uma tiragem maior sem garantia de venda.
Existem, é claro, vantagens e desvantagens na publicação independente e uma variedade de serviços oferecidos que devem ser analisados pelo escritor. Entre as vantagens, podemos citar: a facilidade para publicar sem esperar que uma editora se interesse em publicar seu trabalho; o lucro maior sobre as vendas, já que pela editora o percentual do escritor fica em torno de 10% a 15%; e o controle sobre o conteúdo e todo processo de publicação. O escritor independente pode escolher seu título, sua capa, sua tiragem inicial e ter maior liberdade sobre o próprio conteúdo de sua obra, sem a interferência dos interesses da editora.
No entanto, ter o controle sobre tudo isso também significa ser responsável por todas essas etapas, o que aumenta o trabalho do escritor ou exige a contratação de profissionais qualificados para cada uma delas, como diagramadores, capistas, revisores, etc.
A maior desvantagem talvez esteja na dificuldade de distribuição. Existem muitas formas de distribuir um livro e as plataformas de vendas on-line também vieram para facilitar muito o processo. Ter o controle sobre a distribuição também não é, necessariamente, uma desvantagem, já que permite que o escritor eleja os meios de distribuição de acordo com seu público e seus objetivos. Mas, sem um nome conhecido no mercado, o suporte de uma grande editora e os contatos certos, pode ser mais difícil conseguir distribuir em livrarias, participar de feiras de livros e eventos literários, etc.
Mais uma vez, aumenta o trabalho do autor que precisa criar estratégias de distribuição e divulgação ou contratar profissionais que o façam.
Escritores que já publicaram seus próprios livros relatam dificuldades, mas também declaram satisfação em ver seus livros publicados e em ter autonomia sobre o processo, em poder escapar dos jogos ou exigências do mercado editorial. É o que nos contou o escritor Vitor Motta, que lançou seu primeiro livro de forma independente em formato digital no fim de 2020, em meio à pandemia de Covid19. Veja o depoimento do escritor sobre sua experiência com a publicação do seu livro:
“Apesar de escrever há anos, nunca havia divulgado publicamente os poemas. A pandemia de COVID-19 me fez pensar em outras formas de trabalho, para além das escolas. O confinamento potencializou sonhos e, claro, a preocupação financeira. Foi assim que eu, que nunca tive uma conta no Instagram até então, decidi criar uma para divulgar meus poemas com alguma pretensão, mas sem grandes expectativas. Descobri que não bastava colocar os poemas ali e ficar esperando apenas, o escritor independente de hoje precisa trabalhar muito em muitas áreas para aparecer. O retorno financeiro ainda é pouco, mas as relações criadas com a arte e com os artistas com quem esbarrei têm sido gratificantes, tanto que decidi publicar um e-book. Não fazia ideia do que enfrentaria, principalmente por fazer tudo sozinho, sem qualquer experiência ou paciência com tecnologias de computador. Depois de muitos tutoriais, muitos erros, mudanças de rumo e noites mal dormidas, a obsessão pela ideia de lançar o livro terminou! Nasceu meu primeiro livro! ‘Em caso de emergência: poemas curtos em meio aos surtos’ foi lançado na Amazon, no formato digital, devido ao custo zero. O primeiro elogio de um desconhecido foi muito bom! Agora é seguir aprendendo, escrevendo, buscando o aperfeiçoamento sempre, junto com o sucesso.”
Recapitulando os artigos anteriores sobre a produção artística independente, observamos que apesar das dificuldades que esses profissionais encontram no caminho da produção independente, novas ferramentas e tecnologias contribuem para a democratização das artes, tirando das grandes produtoras, gravadoras, editoras a soberania das decisões sobre o que deve ou não ser produzido, o que o público deve ou não ter acesso. Essa sempre foi a grande força da arte independente e as novas ferramentas, que é claro surgem também por demandas do mercado (não sejamos ingênuos), ampliam a autonomia do artista e contribuem para o processo de propagação da arte. O cenário exige do artista um esforço ainda maior para se destacar e iniciativas que ajudem a dar visibilidade aos artistas independentes serão sempre bem-vindas e necessárias. Sobre isso, complementa o escritor Vitor Motta:
“Escrever de maneira independente é desafiador. Na era das redes sociais, é preciso estar sempre produzindo conteúdo, atraindo interesse. O escritor independente precisa trabalhar muito na produção de textos, na divulgação, na busca por concursos, editoras pequenas e independentes, revistas, precisa estudar a dinâmica das redes sociais. Mas creio que a essência do independente não pode ser perdida. É claro que queremos ser pagos, é claro que queremos seguidores, só que isso não pode determinar nosso processo criativo.”
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