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Foto do escritorAo Redor - Cultura e Arte

A Presença Feminina na Música Erudita

A música erudita, tradicionalmente percebida como um bastião da dominância masculina, tem vivenciado uma transformação notável em direção à inclusão e reconhecimento das mulheres.


Historicamente, a contribuição das mulheres na música erudita foi muitas vezes ofuscada ou negligenciada. No entanto, desde o período Barroco, figuras como Barbara Strozzi e Elisabeth Jacquet de La Guerre já desafiavam as normativas de gênero, emergindo como compositoras e intérpretes reconhecidas. Avançando no tempo, o século XIX presenciou a ascensão de Clara Schumann e Fanny Mendelssohn, cujas obras ainda ressoam com a audiência contemporânea.


A progressão para o século XX e XXI marcou uma era de mudança gradual, com maestrinas como Marin Alsop e JoAnn Falletta conquistando o respeito e admiração nos palcos mundiais. A compositora contemporânea Kaija Saariaho, cuja ópera "L'Amour de Loin" foi uma das poucas obras de uma mulher apresentada na Metropolitan Opera de Nova York, exemplifica a crescente visibilidade e aceitação das mulheres na composição erudita.


No Brasil, a evolução da presença feminina na música erudita reflete tanto influências globais quanto particularidades culturais. A pianista e compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935) é frequentemente celebrada como pioneira, não apenas por suas contribuições musicais, mas também por seu ativismo em prol dos direitos das mulheres e abolição da escravatura. Seguindo seus passos, outras mulheres se destacaram no cenário erudito brasileiro, embora muitas vezes enfrentando resistências e preconceitos similares aos de suas contrapartes internacionais.


No século XX, figuras como Eunice Katunda e Dinorá de Carvalho contribuíram significativamente para a música erudita brasileira, não só compondo, mas também atuando como educadoras, incentivando gerações futuras de músicas. A regente Ligia Amadio é outro exemplo contemporâneo de liderança feminina na música clássica brasileira, tendo dirigido importantes orquestras no Brasil e no exterior.


Apesar dos avanços, as mulheres na música erudita continuam enfrentando desafios significativos. A disparidade de gênero em posições de liderança, como regência, e a sub-representação em programas de concerto e gravações ainda são realidades persistentes. Contudo, iniciativas dedicadas à promoção de obras de compositoras, além da crescente conscientização e esforços por parte de instituições para corrigir desequilíbrios históricos, sugerem um caminho promissor à frente.


A trajetória das mulheres na música erudita, tanto no Brasil quanto globalmente, é marcada por uma luta constante contra preconceitos e barreiras. No entanto, a resiliência e o talento demonstrados por compositoras, regentes e instrumentistas mulheres ao longo da história evidenciam não apenas sua capacidade de superar tais desafios, mas também de enriquecer o repertório erudito com perspectivas únicas e inovadoras. À medida que a sociedade continua a avançar em direção à igualdade de gênero, o reconhecimento e a inclusão das mulheres na música erudita devem ser vistos não como uma concessão, mas como uma celebração da diversidade e excelência artística.




CAMARGO GUARNIERI; Três danças brasileiras; LIGIA AMADIO; OSN-UFF; Música Viva.


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