A dança, tal como qualquer outra forma de arte, não está descolada da configuração de ideias e valores do seu tempo.
A História debruça-se sobre diferentes fontes artísticas desde que, a partir das propostas da Escola dos Analles (historiografia nascida na França, no início do século XX), ampliou seu universo de análise, aceitando outros tipos de fontes que não só os documentos oficiais. Com o passar dos anos, tornou-se comum a utilização da pintura, da literatura, da fotografia, como documentos de pesquisa histórica. A dança, no entanto, permaneceu nos porões da história, sendo abordada, mais por quem pretendeu estudar a história da dança do que por historiadores interessados em perceber a dança como fonte de análise das diversas esferas da sociedade. Perceba-se que são abordagens diferentes.
O fato é que a dança é um objeto de pesquisa complexo e que exige um aparato teórico-metodológico muito peculiar por se tratar de uma fonte artística e imaterial. Um olhar cuidadoso revela, no entanto, que a dança não só pode ser objeto de pesquisa, mas fonte riquíssima de investigação de comportamentos sociais, padrões estéticos, relações de poder e outra infinidade de aspectos que interessam à história. Isso porque a dança é uma expressão artística e, portanto, produção humana e, como tal, inserida num sistema de referências culturais próprias do seu contexto histórico.
Mas as justificativas para a valorização da dança como fonte histórica não param por aí. Além de ser uma produção humana, a dança guarda em sua natureza a particularidade de ser uma arte que tem como suporte expressivo o próprio homem. A existência do homem é corporal e, é o corpo o suporte para o movimento e o meio pelo qual a inspiração artística se materializa na dança. Se o objeto de estudo da história é, no fim, o homem e suas ações ao longo do tempo, então se tem na dança uma privilegiada fonte de informações históricas.
Existe uma carência bibliográfica acerca da utilização da dança como fonte histórica no que concerne, principalmente, à esfera metodológica. É necessário que se desenvolvam métodos que explorem a interdisciplinaridade entrelaçando teoria de pesquisa, história da arte, teoria da arte, teoria da dança, antropologia, dentre outras áreas de conhecimento que possam embasar esse tipo de pesquisa.
A dança não se resume a uma sequência organizada de passos estipulados por um coreógrafo. A dança cênica, como obra final, é um conjunto complexo de elementos coreográficos e não coreográficos que envolvem composição de movimentos, música, interpretação, técnica, espaço cênico, público, entre outros. Cada um desses elementos pode ser fonte de análise para o historiador que reconheça a obra analisada em seu espaço-tempo próprio.
A dança, tal como qualquer outra forma de arte, não está descolada da configuração de ideias e valores do seu tempo. Mesmo quando se configura como lugar de denúncia ou resistência, sua concepção se dá a partir das ferramentas culturais, ideológicas, filosóficas, propiciadas pelo momento histórico ao qual pertence.
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