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A arte como transformação

Atualizado: 20 de jan. de 2024


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A abordagem de NƩstor Garcia Canclini sobre o potencial transformador da arte.


Este artigo fundamenta-se em um autor específico, que através de muitos questionamentos nos apresenta uma visão sobre a arte que enfatiza seu potencial transformador.


A arte enquanto representação de uma realidade pode encobrir ou expor as contradições sociais. Quando as expõe, colabora para a transformação.

NĆ©stor Garcia Canclini, antropólogo argentino contemporĆ¢neo, dedica-se a investigar, principalmente, a pós-modernidade e Ć© uma referĆŖncia quando o assunto Ć© cultura latino-americana. Em seu texto ā€œA Socialização da Arteā€, Canclini debruƧa-se sobre a forma e a função dos objetos para responder o que define uma obra de arte. No texto, demonstra que a maioria dos teóricos da estĆ©tica considerou que a experiĆŖncia artĆ­stica ocorre quando prevalece a forma sobre a função de um objeto. Mas como identificar o que produz esse predomĆ­nio da forma sobre a função? SerĆ” que Ć© algo contido no próprio objeto ou definido por uma intenção do observador?


Segundo o autor, os dois elementos, observador e objeto, sĆ£o determinantes. No entanto, ambos, objeto e sujeito observador, sĆ£o determinados de acordo com cada cultura, modo de produção, perĆ­odo, convenƧƵes variĆ”veis e que modificam o sentido de utilidade e de estĆ©tica dos objetos. A caracterĆ­stica de ā€œartĆ­sticoā€ nĆ£o Ć©, portanto, essencial e nĆ£o estĆ” apenas no objeto ou no observador, mas na relação do homem com o objeto e em determinado contexto histórico-cultural. Assim, o autor justifica que a ā€œestĆ©tica deve partir da anĆ”lise crĆ­tica das condiƧƵes sociais em que produz o artĆ­sticoā€. Sugerindo, entĆ£o, que a tradição de estudos da estĆ©tica deve ser substituĆ­da por uma nova visĆ£o orientada pelas ciĆŖncias sociais e da comunicação.


A partir dessa abordagem, o autor reconhece e procura explicar as dificuldades da existência de uma sociologia da arte. Dificuldades que são consequência, principalmente, da complexidade do fenÓmeno artístico e das limitações das ciências sociais para tratar o assunto. Dentro dessas limitações encontra-se certa insuficiência metodológica, especialmente por aplicarem-se princípios positivistas e pelas barreiras da linguagem para auxiliar nas definições referentes às questões da arte.


Ɖ certo que se desenvolveu ao longo do tempo uma preocupação por parte dos teóricos, historiadores, sociólogos em relacionar a arte com o contexto de sua criação. Alguns desses teóricos foram Hippolyte taine, Erwin Panofsky e Pierre Francastel. Para Canclini, esses pensadores trouxeram importantes contribuiƧƵes para o desenvolvimento da sociologia da arte, pois ampliaram a visĆ£o do entrelaƧamento entre a arte e o contexto social em que estĆ” inserida. No entanto, o autor critica os pesquisadores citados alegando terem descuidado de importantes aspectos desse entrelaƧamento. Assim, afirma que em Taine falta melhor definição sobre que fatores do ā€œmeioā€ sĆ£o determinantes no fenĆ“meno artĆ­stico e acusa Francastel de descuidar das determinaƧƵes sócio-econĆ“micas. Canclini afirma ainda que a produção de trabalhos que relacionam a arte ao contexto de uma maneira satisfatória Ć© uma produção muito recente e escassa. Dentro dessa tendĆŖncia, o autor destaca o marxismo como principal fonte teórica que contribui para o embasamento dessas pesquisas.


Segundo a teoria marxista, as alteraƧƵes nas condiƧƵes econĆ“micas de produção determinam o desenvolvimento de todos os setores da superestrutura e, portanto, nĆ£o seria diferente com a arte. A partir da anĆ”lise marxista, Canclini afirma que ā€œno sistema capitalista, as obras de arte, como todos os bens, sĆ£o mercadoriasā€. Ou seja, existe o propósito de obter lucro. Canclini aponta o exemplo prĆ”tico de como os artistas tĆŖm suas produƧƵes determinadas pelas exigĆŖncias do mercado e trata tambĆ©m dos vĆ­nculos entre a arte e a realidade e de como a obra de arte pode ir alĆ©m da representação para ser elemento de transformação. Para isso, o autor diferencia os artistas que produzem servindo Ć  lógica da reprodução das relaƧƵes sociais a favor das classes dominantes, daqueles artistas que produzem com o sentido de transformação e libertação. A arte enquanto representação de uma realidade pode encobrir ou expor as contradiƧƵes sociais. Quando as expƵe, colabora para a transformação.


Canclini volta-se para a realidade da produção artĆ­stica latino-americana, sua especialidade, e conclui que o processo decisivo na problemĆ”tica atual da arte Ć© que o controle da produção, distribuição e consumo sejam assumidos pelos povos. Isso permitiria o aumento de uma produção artĆ­stica que nĆ£o apenas represente a realidade, mas o faƧa de forma crĆ­tica e possa ser transformadora da realidade. Ɖ interessante, no entanto, observar neste autor como ele trata o carĆ”ter de ā€œdivertimentoā€ presente na arte - mesmo ao abordar temas graves - como colaborador nessa proposta transformadora. Segundo o autor, essa Ć© uma importante faceta da arte para que o entretenimento nĆ£o fique restrito aos meios de comunicação de massa. Socializar a arte, segundo Canclini, envolve tambĆ©m o prazer e a redistribuição do acesso a esse prazer e a criação.

 

ReferĆŖncia

ā€œA Socialização da Arteā€, GARCIA Nestor, Ed. Cultrix, SP.


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Da pré-história à arte contemporânea.

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