a frequência da nota Lá aumentou gradualmente nos últimos 200 anos.
A música é uma forma de arte que para se expressar utiliza combinações de frequências sonoras (notas musicais) e ritmos sequenciados ao longo do tempo. Várias culturas têm suas próprias combinações de notas, formando escalas específicas e combinações rítmicas. Para que todos os instrumentos envolvidos em uma execução musical estejam soando bem, devem estar afinados, todos, por uma das notas musicais que deve estar numa frequência pré-determinada.
Para se afinar um instrumento em uma determinada frequência, em 1711 foi inventado o diapasão. Um objeto metálico em formato da letra “u” que produz sempre o mesmo som. Há um diapasão de 1740, associado a Händel (1685-1759), que soa a 422,5 Hz (hertz, ciclos por segundo). Outro, de 1780, é sintonizado a 409 Hz. Mozart usava o lá em 421,6 Hz.
O primeiro contrato feito para definir uma afinação para todos os países aconteceu em Paris em 1788, que definiu a nota Lá que se encontra à direita do dó central do piano - Lá3 ou Lá4 em alguns países - com a frequência de 409 Hz. Em 1858, a Academia Francesa aferiu o tom a 435 Hz, o que virou lei na França durante o governo de Napoleão III e depois em outros países vizinhos. Aproximadamente 20 anos depois, Verdi conseguiu que um projeto de lei fosse aprovado pelo Parlamento Italiano para ajustar a freqüência do Lá em 432 Hz.
Em 1936, uma conferência internacional recomendou que a nota Lá3 fosse afinada a 440 Hz. Em 1939, a International Federation of the National Standardizing Associations, em Londres, definiu isso como padrão de referência, e, em 1955, esse padrão foi adotado pela Organização Internacional para Padronização como a norma ISO 16, que afirma que a frequência do painel de controle é de 440 Hz e que a sintonia dos instrumentos musicais deve ter uma precisão de ±0,5 Hz. Desde então, o esse padrão tem servido como a frequência para a afinação de todos os instrumentos musicais. No entanto, a norma ISO 16 é uma norma e não uma lei, cada músico ou cada grupo tem a liberdade de escolher outra afinação.
Como observado, a frequência da nota Lá aumentou gradualmente nos últimos 200 anos. Na Europa, atualmente, o Lá usado pela maioria das orquestras sinfônicas e de ópera para afinação varia entre 440 Hz a 444 Hz. Para os ouvidos, a frequência utilizada atualmente não é tão diferente da adotada por Verdi, apenas dá a impressão de mais brilho à orquestra. Porém, as consequências podem ser severas para alguns instrumentos e para os cantores.
Um instrumento construído para ter a pressão de suas cordas a uma determinada frequência sofrerá mais tração e um maior desgaste se essa for aumentando. Pouca coisa para os instrumentos modernos, mas para instrumentos antigos, provavelmente não. E para os cantores de concertos e óperas? Quem canta sabe muito bem como, às vezes, é difícil emitir uma nota muito aguda. “Subir um pouquinho” pode ser muito para alguns. Além disso, se uma ópera foi escrita para a afinação em 432 Hz, passá-la para 442 Hz dificultará a execução para os timbres idealizados pelo compositor.
Há uma luta para que se executem as obras de compositores antigos com as frequências adotadas por eles, para não forçar os instrumentos e nem as vozes dos cantores. Isso também permitiria se ouvir essas obras na afinação original, tal como imaginada pelos próprios autores, senão, daqui a mais 100 anos talvez tenhamos de descer as tonalidades dos concertos e óperas.