Este ano foi atípico em vários setores da vida. A pandemia de Covid19 promoveu mudanças nos hábitos sociais. A comunicação não presencial, através das lives e redes sociais, teve papel fundamental nas mudanças suscitadas no trabalho, na educação e na cultura por causa do distanciamento social imposto pela doença. Todos sentiram o impacto do isolamento e puderam perceber como o ser humano é um ser social.
A comunicação faz parte da natureza humana e tem relação fundamental com outro conceito, o de “identidade cultural”. Stuart Hall[1] é um autor que apresenta grande contribuição para as discussões acerca dos conceitos de cultura e identidade cultural. Para este autor, o processo de formação de identidade é contínuo e relacional, ou seja, desenvolve-se na relação com o outro. Neste contínuo, os conceito de memória, comunicação e identidade estão intimamente relacionados.
Felizmente, com a evolução tecnológica, a comunicação pôde ser mantida de forma não presencial durante o período de isolamento. Em um tempo anterior ao das redes sociais teríamos, provavelmente, consequências mais graves relacionadas ao isolamento.
Um dos maiores impactos causados pela pandemia foi no setor cultural. A cultura é também responsável por movimentar a economia de um país. Ela gera milhares de empregos, diretos ou indiretos, que alimentam os cofres públicos, além do "consumo cultural" que nutre a sociedade.
No campo musical, artistas conseguiram arrecadar dinheiro através das lives. Gusttavo Lima arrecadou mais de 10 milhões de reais em lives desde março. Marília Mendonça ganhou o troféu de "live do ano". Segundo o youtube, em 8 de abril a cantora teve 3,31 milhões de acessos simultâneos, ficando em primeiro lugar no ranking das lives; em segundo lugar ficou o grupo brasileiro Jorge & Mateus com 3,24 milhões de acessos em 4 de abril; e, em 12 de abril, Andrea Bocelli alcançou os 2,86 milhões de acessos.
Para os artistas da música, desde os famosos, com patrocínios e divulgação apropriada, aos desconhecidos (uns tornaram-se conhecidos), a live foi o principal meio de se chegar ao público. Mas tal recurso não foi útil apenas para os músicos, mas para os artistas em geral e até para espaços culturais como teatros e museus.
A comunicação não presencial se tornou presente e viva, e continuará daqui para frente, mesmo depois de as atividades voltarem ao "normal". Diversas atualizações nas redes e plataformas digitais estão sendo implementadas para dar mais visibilidade e retorno aos artistas e produtores.
Qual local de eventos não quer ter um público internacional? Uma banda tocando em um bar pode ter sua música transmitida ao vivo para o mundo inteiro. Ela poderá receber suporte financeiro de fãs presentes ou não. Um show ou uma peça de teatro podem ser transmitidos ao vivo e disponibilizados para visitas posteriores. O Teatro Colón, de Buenos Aires, tem transmitido óperas e balés pré-gravados no seu canal do Instagram, todos os domingos às 20 horas. Esse hábito deve perdurar para além da pandemia. Em tempos em que crescem as ferramentas e possibilidades de criação e produção, a divulgação se torna cada vez mais importante para os artistas e para as casas de eventos.
O acesso à arte foi o principal remédio para sobreviver ao isolamento social e às dificuldades da pandemia. Foi ela que preencheu a distância criada pelo afastamento e manteve saudáveis as nossas mentes.
Como disse Nietzsche, "temos a arte para não morrer da verdade"
[1] Stuart Hall foi um teórico cultural e sociólogo jamaicano que viveu e atuou no Reino Unido a partir de 1951.
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